quinta-feira, 20 de setembro de 2012

                    

Conceito de puta eu aprendi quando minha mãe me disse pra comprar mais pano pro vestido. Ela disse que moça de respeito não usava vestido curto, nem batom vermelho. Eu me encolhi no sofá e disse baixinho que achava batom vermelho bonito, e foi nesse dia que eu levei a maior surra de minha vida. Surra física e moral, porque enquanto me batia, ela gritava algumas ofensas relacionadas ao ato de dar a vagina para um estranho. Na verdade, vagina é uma palavra muito feia, sempre preferir falar buceta, mas mamãe também me disse que moça de respeito não pode dar apelidos ao seu órgão genital. Alias, ela me mandou nunca falar a respeito minha buceta, quer dizer, vagina. Mas não a culpo, metade dos homens que conheci durante a minha vida se intimidaram com um simples cruzar de pernas nuas à sua frente. As pessoas são iguais mamãe. Só que elas não podem me dar uma surra toda vez que me virem de batom vermelho. Eu cresci usando batom rosa bebê e vestido batendo no pé, cresci feito uma freira fora do mosteiro. Fui aquela típica nerd virgem do ensino médio. Mamãe me dizia tantas vezes pra não me envolver com os garotos, que em uma certa época eu comecei a me perguntar se o o seu sonho era ter uma filha lésbica. Como todo filho de pássaro, um dia eu bati minhas queridas asas virgens e voei pra perto dos urubus. Conheci pessoas diferentes, pessoas que viviam a própria vida e não tinham uma mãe, literalmente. Conheci a Sheyla, a Mariana e a Paula, todas tinham 18 anos, assim como eu. Solteiras, safadas, e provavelmente, putas. Elas usavam vestidos curtos, batom vermelho e aplique no cabelo. Sair com elas era como sair como uma gangue de prostitutas. E foi pensando essas palavras, que me dei conta do quanto estava ficando parecida com a mamãe. Com um outro olhar, comecei a admirar os vestidos de Sheyla, o batom de Mariana e o aplique de Paula. Não eram putas, afinal, eram corajosas e belas o suficiente para exibirem suas coxas e peitos siliconados. Eram humildes e comunicativas. Mariana era órfã até. Se mamãe tivesse ali teria dito que era por isso que essa garota era assim tão puta. Mas não, mamãe não estava ali, e eu não me importava mais com a sua opinião. Vesti um vestido curto e passei o batom vermelho. Sai de lá me achando gostosa mesmo e fui direto pra casa de mamãe. Quando abriu a porta, me deu um safanão na cara e gritou para a vizinhança inteira ouvir que eu não era mais a sua filha. Sorri para ela. Ela me chamou de puta. Não mamãe, eu não sou puta, nem vadia e muito menos vagabunda, eu só tenho coxas grossas e uma boca bem colorida. Se eu gostar de um cara, por que não dar a minha buceta para ele? É mamãe, b-u-c-e-t-a. Sabe, as pessoas não prestam por fora, mas por dentro, elas possuem muito mais do que um dia você sonha possuir. Mulheres corajosas colocam seus próprios limites, usam vestidos no pé ou bem acima do joelho e entopem a cara de maquiagem. Porque mulher de verdade sabe que puta não é aquela que usa roupa curta e dá pra todos, puta é quem dá pra todos e esquece de usar a camisinha.

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